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São Leão Magno – papa e doutor da Igreja

O papa Leão, nascido na Toscana no fim do século IV, é lembrado nos textos de história pelo prestígio moral e político dos quais deu prova diante das ameaças dos hunos de Átila (que conseguiu prender no Míncio) e dos vândalos de Genserico (de quem amansou a ferocidade no saque de Roma de 455). Elevado ao trono pontifício em 440, Leão, nos vinte e um anos de pontificado (morreu a 10 de novembro de 461), realizou em torno de sua sede a unidade de toda Igreja, impedindo a usurpação de jurisdição, eliminando abusos do poder, temperando as ambições do patriarcado constantinopolitano e do vicariato de Arles.

Não temos muitas notícias biográficas dele. O papa Leão não gostava de falar de si em seus escritos. Tinha uma ideia altíssima de suas funções: sabia assumir a dignidade, o poder e a solidão de Pedro, chefe dos apóstolos. Mas as suas atitudes, constante e rigidamente sacerdotais, hieráticas, não fazem um pano de fundo ao calor humano e também ao entusiasmo, que transparecem dos 96 Sermões e das 173 Cartas chegados até nós. De modo especial as homilias nos mostram o papa, um dos maiores da história da Igreja, paternalmente dedicado ao bem espiritual dos seus filhos, aos quais fala com linguagem acessível, traduzindo seu pensamento em fórmulas sóbrias e eficazes para a prática da vida cristã.

As suas cartas, dado o estilo culto, atento a certas cadências eficazes, dão a medida de sua rica personalidade. Espírito muito compreensivo e de larga visão, não se apega a detalhes de uma questão doutrinal. Todavia participa ativamente na elaboração dogmática do grave problema teológico tratado no concílio de Calcedônia, convocado pelo imperador do Oriente para a condenação do monofisismo.

A sua célebre Epístola dogmática a Flaviano, lida pelos delegados romanos que presidiam a assembleia, forneceu o sentido e, às vezes, as fórmulas da definição conciliar, criando assim unidade efetiva e solidariedade com a sede de Roma, caso único na história da Igreja, desde aquele período até hoje. Leão foi o primeiro papa que recebeu dos pósteros o apelido de Magno (grande),’ não só pelas qualidades literárias e pela firmeza com que sustentou o decadente império do Ocidente, mas pela estabilidade dogmática que transparece das suas cartas, dos seus sermões e das orações litúrgicas da época em que são evidentes a sobriedade e a precisão tipicamente leoninas.

Extraído do livro:
Um santo para cada dia, de Mario Sgarbossa e Luigi Giovannini.

FONTE: PAULUS

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Consagração da Basílica de Latrão

“Perguntou ainda o prefeito Rústico: ‘Onde vos reunis?’ Justino respondeu: ‘Onde cada um pode e prefere; tu pensas que todos nós nos reunimos num único lugar, mas não é assim, porque o Deus dos cristãos, que é invisível, não se circunscreve a um lugar, mas enche o céu e a terra e é venerado e glorificado em qualquer parte pelos seus fiéis” (Atas do martírio de são Justino e companheiros). Na sua franca resposta o grande apologista, são Justino, repetia diante do juiz o que Jesus dissera à samaritana: “Acredita-me, mulher, vem a hora em que nem neste monte nem em Jerusalém adorareis o Pai. Vós adorais o que não conheceis; nós adoramos o que conhecemos, porque a salvação vem dos judeus. Mas vem a hora — e é agora — em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e verdade; pois tais são os adoradores que o Pai procura. Deus é Espírito e os que o adoram devem adorá-lo em espírito e verdade” (Jo 4,21-24).

A festa de hoje, da dedicação da basílica do Santíssimo Salvador ou de São João do Latrão, não está de modo algum em contradição com o testemunho de são Justino e com a palavra de Cristo. Salvos o dever e o direito da oração sempre e em toda parte, é também verdade que desde os tempos apostólicos, a Igreja, enquanto grupo de pessoas, teve necessidade de alguns lugares onde reunir-se para orar, proclamando a palavra de Deus e renovando o sacrifício da morte e ressurreição de Cristo, concretizando suas palavras: “Tomai e comei todos; tomai e bebei todos; fazei isto em minha memória”.

Inicialmente essas reuniões eram feitas em casas particulares, também porque a Igreja não tinha reconhecimento nenhum. Mas este veio sem muita demora. Há um singular episódio no início do século III, quando Alexandre Severo deu razão à comunidade cristã e um processo contra os hospedeiros, que reclamavam contra a transformação de uma hospedaria em lugar de culto cristão.

A basílica lateranense foi fundada pelo papa Melquíades (311-314) nas propriedades doadas para este fim por Constantino, ao lado do palácio lateranense, até então residência imperial e depois residência pontifícia. Surgia assim a igreja-mãe de todas as igrejas de Roma e do mundo, destruída e reconstruída muitas vezes. Foram celebrados nela ou no antigo Palácio Lateranense nada menos que cinco concílios nos anos de 1123, 1139, 1179, 1215 e 1512. “Mas o tem-plo verdadeiro e vivo de Deus devemos ser nós”, diz são Cesário de Arles.

Extraído do livro:
Um santo para cada dia, de Mario Sgarbossa e Luigi Giovannini.

FONTE: PAULUS

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São Deodato I – papa

O santo de hoje, papa Deodato I, ou Deusdedit, surge dos séculos obscuros da primeira Idade Média, com poucas evidências. Escassas notícias históricas: filho do subdiácono romano Estevão, foi por quarenta anos padre em Roma antes de suceder ao papa Bonifácio IV a 19 de outubro de 615. Morreu em novembro de 618, amado e chorado pelos romanos que tiveram a oportunidade de apreciar seu bom coração durante as grandes calamidades que se abateram sobre Roma nos seus três anos de pontificado: o terremoto, que deu golpe de graça aos edifícios de mármore dos Foros, já devastados por sucessivas invasões bárbaras e horrível epidemia denominada elefantíase.

Foi o primeiro papa que estabeleceu com testamento doações para distribuir ao povo por ocasião da morte do sumo pontífice. Em Roma o papa era não somente o bispo e o pai espiritual, mas também o guia civil, o juiz, o supremo magistrado, a garantia da ordem. Com a morte de cada pontífice, os romanos se sentiam privados de proteção, expostos às invasões dos bárbaros nórdicos ou às reivindicações do império do Oriente. A teoria dos dois únicos, papa e imperador, que deviam governar unidos o mundo cristão, não encontrava grandes adesões em Constantinopla.

O papa Deodato mostrou-se, todavia, hábil mediador com o outro único, que a bem da verdade era pouco solícito para o bem dos italianos, salvo uma vez, que enviou o exarca Eleutério para acabar com as revoltas de Ravena e de Nápoles. Foi a única vez que o papa Deodato, ocupado em aliviar os desconfortos da população da cidade, nas calamidades acima referidas, teve um contato, se bem que indireto, com o imperador. O cardeal Barônio insere no Mar-tirológio Romano um episódio que revalidaria a fama de santidade que circundava o pontífice “dado por Deus” (conforme a etimologia do seu nome) para guiar os cristãos em épocas tão difíceis: durante uma de suas frequentes visitas aos doentes, os mais abandonados, os que eram atingidos pela lepra, teria curado um desses infelizes, após havê-lo amavelmente abraçado e beijado.

O Liber Pontificalis, recordando dois atos do seu pontificado, afirma que Deodato amou muito o seu clero e que o defendeu em relação ao clero monástico ou regular, privilegiado desde que Gregório Magno confiara aos monges importantes tarefas no apostolado missionário e na própria organização eclesial. O segundo ato se refere à faculdade de rezar uma segunda missa (binação).

Extraído do livro:
Um santo para cada dia, de Mario Sgarbossa e Luigi Giovannini.

FONTE: PAULUS

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São Wilibrordo – bispo

A evangelização da Alemanha do transreno teve início no sé-culo VII, no fim da época merovíngia, por obra dos monges irlandeses e anglo-saxões, e atingiu o máximo desenvolvimento no século seguinte com a ação missionária de são Bonifácio. O primeiro a desembarcar na Frísia, nos Países Baixos, foi Wilfrido de York. Depois o abade Egberto, mestre de vida espiritual da época, aí mandou Wilibrordo, originário de Nortúmbria, onde nascera em 658; seu zelo pela difusão do Reino de Deus será o único motivo de sua dinâmica existência.

Este monge, que os biógrafos descrevem de pequena estatura, de cabelos negros, de delicada constituição, com olhos profundos e vivos, encarna o tipo ideal do monge ocidental: trabalhador que não conhece pausa nem crise de desânimo; austero, prudente, leal, tenaz, devoto do papa. Formado na abadia inglesa de Ripon, com a idade de vinte anos fora à Irlanda para aperfeiçoar sua cultura teológica sob a guia do abade Egberto, que aos trinta anos o consagrou sacerdote.

Após o insucesso da missão de Wilfrido, foi mandado com onze companheiros para a Frísia. A vitória de Pepino de Herstal sobre o rei Radbod em 689 tornou mais fácil a campanha. Desembarcados na embocadura do Escaut, região de terras férteis, os missionários se dirigiram terra a dentro, acolhidos com grandes honras pelo duque Pepino. Mas Wilibrordo, antes de dar início à obra de evangelização, quis ir a Roma para obter o beneplácito do papa. De Sérgio I recebeu aprovação e encorajamento. Ao retornar, o monge escolheu Atuérpia como centro do seu apostolado e como quartel general das futuras fundações, das quais a mais célebre foi a de Utrecht.

Para erigir a nova sede diocesana na Frísia, Wilibrordo foi de novo a Roma, onde o papa Sérgio I, a 21 de novembro de 695, o consagrou bispo, com o nome de Clemente (24 anos mais tarde Gregório II fez o mesmo com o monge saxão Wilfrido-Bonifácio). A partir desse momento seria difícil enumerar todas as viagens do infatigável missionário, das margens do Reno até à Dinamarca. Fundou em Echternach (Luxemburgo) um pequeno convento e aí morreu a 7 de novembro de 739 aos oitenta e um anos de idade.

Foi homem de ação e de oração, e sobretudo grande organizador, com destacado senso de comando, que lhe permitiu, graças também à formação de bispos auxiliares (uma novidade para o Ocidente), evitar as divisões das igrejas com a consequente dispersão da atividade pastoral.

Extraído do livro:
Um santo para cada dia, de Mario Sgarbossa e Luigi Giovannini.

FONTE: PAULUS

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São Leonardo de Noblac – eremita

É dos santos mais populares na Europa central. Diz de fato um estudioso que em sua honra foram erigidas nada menos que seiscentas igrejas e capelas, e seu nome se encontra frequentemente na toponomástica e no folclore. O mesmo estudioso acrescenta que ele “com especial devoção sacudiu a época das cruzadas e entre os devotos sobressaiu o príncipe Boemundo de Antioquia, que, prisioneiro dos infiéis no ano 1100, atribuiu a sua libertação em 1103 ao santo, e voltando à Europa, doou ao santuário de são Leonardo de Noblac, como voto, corrente de prata, parecida com as que o amarraram durante sua prisão”. São Leonardo de Noblac (ou de Limoges) é santo descoberto no início do século XI, e é a esse período que remontam as primeiras biografias, bastante lendárias.

Com o seu costumeiro senso crítico, os balandistas declararam cheia de fábulas a Vida de são Leonardo escrita pouco depois de 1030. É ainda dessa fonte, na verdade pouco genuína, que tiramos as notícias seguintes: Leonardo nasceu na Gália no tempo do imperador Anastácio, isto é, entre 491 e 518, sendo seus pais, além de nobres, também amigos íntimos de Clóvis, o grande chefe dos francos. Tornando-se moço, Leonardo não quis seguir a carreira das armas e preferiu pôr-se no seguimento de são Remígio, que se tornara bispo de Reims.

Como são Remígio, aproveitando-se da sua amizade com o rei, conseguira o privilégio de conceder a liberdade a todos os prisioneiros com os quais se encontrasse, também Leonardo pediu e obteve poder análogo, que exerceu frequentemente. O rei sentiu-se no direito de oferecer outra coisa, a dignidade episcopal. Mas Leonardo, que não aspirava a glórias humanas, preferiu retirar-se primeiro para junto de são Maximino em Micy e depois para as proximidades de Limoges, bem no meio de uma floresta denominada Pavum.

Sua solidão foi interrompida um dia com a chegada de Clóvis que caçava com os seus seguidores. Com o rei estava até a rainha, que precisamente naquela ocasião começou a sentir dores de parto. As orações e os cuidados de são Leonardo propiciaram-lhe um feliz parto, e então o rei fez com Leonardo um pacto singular: dar-lhe-ia de presente, para edificar ali um mosteiro, todo o terreno que ele conseguisse percorrer montado num burro.

Extraído do livro:
Um santo para cada dia, de Mario Sgarbossa e Luigi Giovannini.

FONTE: PAULUS

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Santos Zacarias e Isabel

A Igreja latina celebra hoje a festa da mãe de João Batista e une à sua memória a do marido Zacarias. De ambos o evangelho de Lucas nos dá poucas notícias, limitadas ao período da dupla anunciação a Zacarias e à Virgem e do nascimento do precursor de Jesus. Todavia, com poucas palavras, o evangelista sintetiza a santidade deles, seu espírito de oração, a retidão dos seus corações no cumprimento não só externo mas também interior dos preceitos mosaicos: “Ambos eram justos aos olhos de Deus e observavam irrepreensivelmente os mandamentos e as leis do Senhor”.

Para a mulher judaica a maternidade era considerada a manifestação externa da bênção de Deus. Mas a esterilidade de Isabel era a premissa da intervenção prodigiosa da graça de Deus, que gosta de fazer as suas obras do nada. “O ventre fechado de Isabel e aquele voluntariamente virgem de Maria são os sinais de um povo até então imerso no deserto e que está para encontrar a fecundidade da alegria prometida pela aliança” (Maerttens). É o pensamento expresso pelo próprio Zacarias no cântico profético que entoou no dia da circuncisão do filho João.

Com o Benedictus, considerado a última profecia do Antigo Testamento, Zacarias canta, na primeira parte, a Deus por ter mantido a promessa feita a nossos pais, enviando à terra o Salvador, que teria finalmente libertado o povo dos seus inimigos, permitindo-lhe “servi-lo na santidade e na justiça, na sua presença, por todos os dias”. A grande obra da salvação começara em surdina, no silêncio e na oração da casa de Maria em Nazaré e naquela de Ain Karim, povoado não bem identificado a cinco milhas de Jerusalém, onde os cônjuges idosos Zacarias e Isabel aguardavam o nascimento do precursor de Jesus. Aqui aconteceu o encontro entre a Virgem Mãe e sua prima Isabel, que “repleta do Espírito Santo” saudou a jovem parenta com as palavras que pelos séculos os cristãos repetem com a oração da ave-maria: “bendita entre as mulheres e bendito o fruto do teu ventre”.

Após o nascimento do filho João, no qual Zacarias exalta a grande missão de “batedor” de Jesus a fim de preparar as almas para receberem a salvação, os dois santos cônjuges desaparecem na sombra, dissipando-se como a tênue luz lunar pela luz solar de Cristo conforme uma lei que mais tarde seu filho proclamou: “Importa que ele (Cristo) cresça e eu diminua”.

Extraído do livro:
Um santo para cada dia, de Mario Sgarbossa e Luigi Giovannini.

FONTE: PAULUS

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São Carlos Borromeu – bispo

A grande estátua que os seus concidadãos de Arona, no Lago Maior, erigiram-lhe exprime muito bem a grande estatura humana e espiritual deste santo, ativo, benéfico, empenhado em todos os campos do apostolado cristão. Nasceu em Arona em 1538. Sobrinho do papa Pio IV, foi feito cardeal-diácono com o título de santo Praxedes, com apenas 21 anos de idade, e escolhido pelo próprio papa como secretário de Estado. Também estando em Roma dirigindo os negócios inerentes à sua função (foi o primeiro secretário de Estado no sentido moderno), teve o privilégio de administrar, ainda que de longe, a arquidiocese de Milão.

Quando morreu o seu irmão mais velho, renunciou definitivamente ao título de conde e à sucessão e preferiu ser ordenado, aos vinte e quatro anos, sacerdote e bispo. Dois anos depois, morto o papa Pio IV, Carlos Borromeu deixou definitivamente Roma e foi acolhido triunfalmente na sua sede episcopal milanesa, onde ficou até à morte que o levou com apenas 46 anos de idade, em 1584. Em uma diocese cujos limites continham populações lombardas, venezianas, suíças, piemontesas e lígures, são Carlos estava presente em toda parte. Sua divisa trazia como lema uma única palavra: Humildade. Não era simples curiosidade heráldica, era escolha consciente: ele, nobre e riquíssimo, privava-se de tudo e vivia em contato com o povo para escutar-lhe as necessidades e as confidências. Definiram-no o pai dos pobres: ele o foi no sentido pleno da palavra.

Prodigalizou seus bens na construção de hospitais, albergues, casas de formação para o clero, empenhando-se em levar à frente as reformas sugeridas pelo concílio de Trento, do qual foi um dos principais atores. Movido por sincero espírito de reforma trouxe rígida disciplina para o clero e religiosos, nunca se preocupando com as hostilidades que criava com os que não estavam dispostos a renunciar à certos privilégios que a tonsura garantia. Foi alvo de covarde atentado, enquanto rezava na sua capela, mas saiu ileso, perdoando generosamente o autor do atentado.

Levou à frente as reformas do concílio de Trento, indispondo-se com o governador espanhol. Durante a terrível epidemia de peste que explodiu em 1576 e se prolongou por muito tempo, aninhando-se em muitos cantos da sua diocese, são Carlos gastou todas as suas energias, e sua caridade não conheceu limites e precauções. Depois também sua robusta fibra teve de ceder ao peso de tamanha fadiga. Morreu a 3 de novembro de 1584. Foi canonizado em 1º de novembro de 1610 por Paulo V.

Extraído do livro:
Um santo para cada dia, de Mario Sgarbossa e Luigi Giovannini.

FONTE: PAULUS

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São Martinho de Lima – religioso

Filho de nobre cavaleiro espanhol e de negra do Panamá, de origem africana, Martinho (nascido em Lima a 9 de dezembro de 1579) não teve infância feliz. Por causa da pele escura o pai não o quis reconhecer e no livro de batizados foi registrado como filho de pai ignorado. Viveu pobremente até aos oito anos de idade em companhia da mãe e de uma irmãzinha, nascida dois anos depois dele. Após breve período de tranquilidade ao lado do pai no Equador, foi de novo abandonado a si mesmo, embora o pai mandasse o necessário para completar os estudos. Martinho tinha muita inclinação para a medicina e aprendeu as primeiras noções na farmácia-ambulatório de dois vizinhos de casa.

Com a idade de 15 anos abandonou tudo e foi bater na porta do convento dos dominicanos em Lima. Foi admitido apenas como terciário e incumbido dos trabalhos mais humildes da comunidade. Fez da vassoura uma espécie de divisa (um antigo retrato no-lo apresenta com o modesto mas indispensável instrumento caseiro na mão) e reservava para si todos os trabalhos mais pesados e repugnantes. Por fim, os superiores perceberam o que representava aquela alma para a Ordem, e acolhendo-o como membro efetivo a 2 de junho de 1603, admitiram-no à profissão solene. Também na qualidade de irmão leigo quis permanecer a escória do convento, mas a sua santidade começou a refulgir para além dos limites do mosteiro, pelos extraordinários carismas com os quais era dotado, como as profecias, os êxtases, as bilocações.

Embora nunca tivesse se distanciado de Lima, foi visto na África, na China, no Japão para confortar missionários em dificuldades. A este humilde irmão leigo recorriam para conselho teólogos, bispos e autoridades civis. Mais de uma vez o próprio vice-rei teve de aguardar diante da sua cela, porque frei Martinho estava em êxtase.

Durante uma peste epidêmica, curou todos os que recorreram a ele, e aos seus sessenta confrades curou prodigiosamente. Com o mesmo candor de um são Francisco dirigia suas atenções a todas as criaturas, compreendidos os ratos, que lhe obedeciam docilmente.

Viram-no, por mais de uma vez, chamar os ratos aninhados na sacristia e conduzi-los para fora, num canto do jardim: ainda hoje invocam-no na infestação de ratos. Morreu a 3 de novembro de 1639. Beatificado em 1837 por Gregório XVI, foi canonizado a 6 de maio de 1962 por João XXIII. No ano de 1966 Paulo VI o proclamou patrono dos barbeiros.

Extraído do livro:
Um santo para cada dia, de Mario Sgarbossa e Luigi Giovannini.

FONTE: PAULUS

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Comemoração de todos os fiéis falecidos

A todos os que morreram “no sinal da fé” a Igreja reserva um lugar importante na liturgia: há uma lembrança diária na missa, com o Memento (= lembrança) dos mortos, e no Ofício divino com a breve oração (as almas dos fiéis pela misericórdia de Deus, descansem em paz), e existe sobretudo a celebração hodierna na qual cada sacerdote pode celebrar três missas em sufrágio das almas dos falecidos. A comemoração dos falecidos, devida ao abade de Cluny, santo Odilon, em 998, não de todo nova na Igreja, pois em toda parte se celebrava a festa de todos os santos e o dia seguinte era dedicado à memória dos fieis falecidos. Mas o fato de que milhares de mosteiros beneditinos dependessem de Cluny favoreceu a ampla difusão da comemoração a muitas partes da Europa setentrional. Depois também em Roma, em 1311, foi sancionada oficialmente a memória dos falecidos.

O privilégio das três missas no dia 2 de novembro, concedido à Espanha em 1748, foi estendido à Igreja universal por Bento XV em 1915. Desejava-se assim sublinhar uma grande verdade, que tem o seu fundamento na Revelação: a existência da Igreja da purificação, colocada num estado intermediário entre a Igreja triunfante e a militante. Estado intermediário, mas temporário “onde o espírito humano se purifica e se torna apto para o céu”, segundo a imagem de Dante. Na primeira carta aos coríntios, são Paulo usa a imagem de edifício em construção.

Os pregadores são os operários que edificam sobre o fundamento colocado pelos primeiros enviados de Cristo, os apóstolos. Existem os que cumprem trabalho caprichado e sua obra fica sem defeitos, outros ao contrário com o bom material misturam mate-rial de segunda, madeira e palha, isto é vanglória e indiferença. Depois vem a vistoria, que são Paulo chama de dia do Senhor, a prova de fogo: a provação apreciará a obra de cada um. Alguns assistirão à resistência do seu edifício, outros verão desabar o seu. “Ora — acrescenta o apóstolo são Paulo — se a obra que alguém edificou permanecer em pé, ele receberá a recompensa, se se queimar, sofrerá prejuízo, mas ele será salvo por meio do fogo”.

A essas almas, que a prova de fogo obriga à purificação, em vista da plena alegria do paraíso, a Igreja dedica hoje memória particular, para ressaltar mediante a caridade do sufrágio o vínculo de amor que une perenemente os que morreram no sinal da fé e foram destinados à eterna comunhão com Deus.

Extraído do livro:
Um santo para cada dia, de Mario Sgarbossa e Luigi Giovannini.

FONTE: PAULUS

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Todos os santos

Hoje a Igreja militante honra a Igreja triunfante “celebrando numa única solenidade todos os santos” — são as palavras que o sacerdote pronuncia na oração da missa — para render cumulativamente homenagem àquela multidão de santos que povoam o Reino dos céus. A leitura repete as palavras de são João no Apocalipse: “E vi uma grande multidão, que ninguém podia contar, de todas as gentes e tribos e povos e línguas…”. Aquela grande multidão “que está diante do Cordeiro” compreende todos os servos de Deus, aos quais a Igreja decretou a canonização, e todos os que — em número imensamente superior — conseguiram a salvação, com a eterna visão beatífica de Deus.

Deus prometeu de fato dar a eterna bem-aventurança aos pobres no espírito, aos mansos, aos que sofrem e aos que têm fome e sede de justiça, aos misericordiosos, aos puros de coração, aos pacíficos, aos perseguidos por causa da justiça e a todos os que recebem o ultraje da calúnia, da maledicência, da ofensa pública e da humilhação. Hoje todos esses santos que tiveram fé na promessa de Cristo, a despeito das fáceis seduções do mal e das aparentes derrotas do bem, “alegram-se e exultam” pela grande recompensa dada por um Rei incompreensivelmente misericordioso e generoso. E a Igreja militante, unida pelo indissolúvel vínculo da caridade com os filhos que passaram “à melhor vida”, honra-os com particular solenidade.

A origem da festa hodierna remonta ao século IV. Em Antioquia celebrava-se uma festa por todos os mártires no primeiro domingo depois de Pentecostes. A celebração foi introduzida em Roma, na mesma data, no século VI, e cem anos após era fixada no dia 18 de maio pelo papa Bonifácio IV, em concomitância com o dia da dedicação do Panteão a Nossa Senhora e a todos os mártires. O monumento pagão assumiu o nome cristão de Santa Maria dos Mártires. Naquele dia, durante a missa, fazia-se chover uma chuva de rosas vermelhas. No ano de 835 esta celebração foi transferida pelo papa Gregório IV para 19 de novembro, provavelmente por motivos de simples comodidade, como refere João Beleth no século XII, isto é, porque após a colheita do outono era mais fácil arrecadar comida e bebida para a grande multidão de peregrinos que acorriam a Roma naquela oportunidade.

Extraído do livro:
Um santo para cada dia, de Mario Sgarbossa e Luigi Giovannini.

FONTE: PAULUS